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Seis portugueses que influenciam a ciência mundial

 

Há uma química, dois engenheiros, um físico, um matemático e um biogeógrafo. Os seus nomes: Isabel Ferreira, Mário Figueiredo, José Bioucas-Dias, Nuno Peres, Delfim Torres e Miguel Araújo. São seis portugueses e integram a lista dos cientistas mais citados do mundo da Thomson Reuters 2015, que inclui 3126 nomes. Um reconhecimento que, dizem eles, também é extensivo às instituições em que trabalham, e ao próprio país.

"Este é um dos dados com peso para os rankings internacionais das universidades, e o número de pessoas nesta lista por milhão de habitantes constitui uma das medidas do impacto da ciência de um país", explica Mário Figueiredo, engenheiro eletrotécnico e investigador do Instituto de Telecomunicações, no Instituto Superior Técnico (IST). Para o cientista, na lista pelo segundo ano consecutivo, seis é "um bom número". "Estamos bem posicionados nesse parâmetro, entre a França e a Alemanha".

Além do mais, de dois portugueses na lista de 2014 - a par de Mário Figueiredo, também lá estava o físico Nuno Peres, da Universidade do Minho, que volta a ser incluído agora - , a de 2015 passou a integrar seis portugueses. Mais uma vez, como eles assinalam, é o resultado de um trabalho de anos. "O número de citações só se reflete oito a 10 anos depois da publicação de um artigo", diz Delfim Torres, matemático, professor e investigador na Universidade de Aveiro. As citações mostram a influência que esses trabalhos têm nas respetivas áreas.

 

Fonte:http://www.dn.pt/sociedade/interior/portugueses-que-influenciam-a-ciencia-mundial-4972033.html

 

Isabel Ferreira

 

Nasceu em Bragança, fez Bioquímica na Universidade do Porto, doutorou-se em Química na Universidade do Minho e, assim que pôde, regressou. 

A ideia de "explorar as matrizes do nordeste para torná-las fonte de compostos bioativos surgiu naturalmente". Lançou-se no estudo das espécies de cogumelos e plantas da região para identificar novas moléculas capazes de substituir os compostos sintéticos na indústria alimentar, que são menos benéficos, como o seu grupo advoga - alguns dos seus artigos mais citados têm essa visão crítica. Por isso investiga alternativas mais saudáveis. 

 

Mário Figueiredo

 

Pelo segundo ano consecutivo, integra a lista dos cientistas mais citados da Thomson Reuters. Ironicamente, isso não impediu que o Instituto de Telecomunicações (IT), onde se inclui o grupo de Processamento e Análise de Imagem que dirige, no Instituto Superior Técnico, tivesse caído de "Excelente" para "Muito Bom" na última avaliação da FCT às unidades de investigação. O IT contestou - falta saber o resultado - , mas houve consequências : o financiamento estratégico anual da FCT, levou um corte pesado. "Uma das coisas estranhas da avaliação foi que deu demasiado peso ao plano estratégico, em relação à prova do trabalho feito", explica. O facto de integrar a lista dos cientistas mais citados do mundo - bem como José Bioucas-Dias, do seu grupo - "desmente a avaliação", defende. Doutorado em engenharia electrotécnica, em 1994, no IST, faz investigação em técnicas computacionais de reconstrução de imagem, o que se aplica a áreas como a ressonância magnética para diagnóstico médico, ou a imagens de satélite. 

 

José Bioucas-Dias

 

Algum do seu trabalho tem sido feito em colaboração com Mário Figueiredo - afinal são do mesmo grupo de investigação -, mas José Bioucas-Dias tem-se dedicado sobretudo a desenvolver algoritmos para aplicar ao processamento de imagens hiperespectrais, que têm mais de 300 cores. Nos últimos anos, estas metodologias têm permitido, por exemplo, obter imagens de satélite onde é possível ver o que está dentro de uma floresta, verificar que compostos estão no interior de um comprimido, ou detetar cancro de pele. "São avanços dos últimos cinco a 10 anos", diz. José Bioucas-Dias participa neles avanços, o que valeu muitas citações dos seus pares: 4200 nesta lista, que só conta o top 1% dos artigos em cada área.

 

Nuno Peres

 

Em 2005, cruzou-se com Andre Geim e Konstantin Novoselov, dois russos da Universidade de Manchester, numa conferência internacional, e os três aperceberam-se de que estavam a trabalhar sobre os mesmos problemas de um material chamado grafeno. "Eu na parte teórica e eles na experimental, e então decidimos colaborar". Em 2010, os russos ganharam o Nobel da Física pelo seu trabalho experimental, que abriu um mundo de possibilidades novas na eletrónica, ótica, medicina, materiais compósitos... 

 

Delfim Torres

 

Foi pela sua mão que nasceu, na Universidade de Aveiro, em meados dos anos 2000, uma "parte fulcral" de uma área nova da matemática chamada controlo ótimo fracionário, que na última década tem sido aplicada na biologia e na medicina, por exemplo em epidemiologia, para prever a evolução de uma doença. "Há três livros nesta área e eu sou coautor dos três, com colegas da Alemanha e da Polónia", conta. Não admira que seja um dos poucos matemáticos do mundo nesta lista restrita de cientistas. Doutorado em matemática, em Aveiro, é ali professor e investigador há 20 anos. O seu mais recente trabalho, uma aplicação do novo modelo matemático à previsão da coinfeccção do HIV e da tuberculose, publicado em 2015, também já conta com uma série de citações.

 

Miguel Araújo

 

É um dos especialistas mundiais nos estudos de impacto das alterações climáticas sobre as espécies e a sua conservação, foi um dos autores do 4º relatório do IPCC, em 2007 e tem mais de 15 mil citações na lista da Thomson Reuters 2015.

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